Para ler tudo isso que escrevi, vai ficar melhor com essa música tocando de fundo…
“Se o primeiro ano for uma amostra do resto de nossas vidas, vamos ser muito felizes.”
-Netto
Não era para ter acontecido mas Alah, Moises, Buda, Deus, Elvis e o Dalai Lama se juntaram numa força tarefa para que meus planos dessem errado e a gente sim, desse certo.

Eu estava com a volta para Londres certa naquela quarta-feira, dia 15 de maio de 2013. Um projeto inédito que estava me deixando muito animado, fez eu adiar a volta para que as datas batessem e eu fosse para Munique trabalhar de lá por quatro meses, portanto, durante todo o verão na terra que o Hitler fez a festa. Mas a força tarefa mudou tudo: no dia 14 de manhã, um dia antes de viajar, fui informado que o trabalho tinha sido adiantado para o meio de junho e, portanto, nao tinha muita pressa para voltar. Foi aí que mudei a passagem e resolvi só ir no final de maio.

A prima já estava deixando tudo pronto para que um amigo conhecesse a menina. Eu participava sempre com muita distância de tudo aquilo pois, por mais que torcia pelo amigo, não queria opinar. Quando a prima falou que já estava tudo pronto para apresentá-los confesso que fiquei mais com inveja de ir junto para passar uma tarde em Ribeirão, que propriamente conhecer a moça que a prima tanto falara para o amigo.

Só nao participava da história porque, até então, não podia ir para Ribeirão pois no dia que iriam (prima, irmão e o amigo) eu estaria embarcando. Mas com a viagem adiada, foi a minha chance de não amargar a solidão e fazer parte do grande entretenimento e companhia dessas pessoas queridas para ir passar uma tarde em Ribeirão conhecendo a prometida e encher o saco do Jorge durante a viagem toda. Quando cheguei e vi a menina ela estava bonita. Ela era bonita. Ela é bonita. Muito bonita. Fiquei feliz pelo amigo, pois ela parecia ser uma mulher completa: bonita, minimamente elegante, simpática, gentil, educada e ainda gerenciava um restaurante. Mas a força tarefa se fortaleceu e o amigo acabou caindo num abismo de timidez e, assim, se calando e se afastando. O meu detector de conversa chata estava muito calibrado no dia e eu fui ao resgate do amigo para ajudá-lo a sair do abismo. Deu errado. Acabei falando demais e a menina também. Numa mesa de cinco pessoas, só duas pareciam em harmonia e com disposição para conversar.

Os assuntos foram tão variados quanto o arco-íris de raças brasileiras que vai do Pelé à Gisele Bünchen. Com destaque especial para como é feito o armazenamento da carcaça do salmão depois que é limpo. Embora a conversa tenha se desenvolvido surpreendentemente bem, ela não era para mim. Ela era prometida. Porém, a força tarefa (sempre ela), mais uma vez faz a história mudar o curso e os interesses batem. A prima (que eu ainda desconfio que faça toda a burocracia terrena da força tarefa) realinhou os caminhos. Depois disso a conversa pararam de ser públicas. Primeiro pela internet, depois no celular e, menos de uma semana depois, no Vitório. Ahhhh o Vitório! Aquele lugar exerce uma magia que me fez ficar ainda mais encantado com a menina. Ela estava linda naquela quarta-feira. Embora deixamos o lugar como os ultimos clientes, o nosso garçom foi muito gentil o tempo todo. Até uma marmitinha ele fez para a menina que eu recentemente descobrira que não come muito. Mas foi só na sexta feira que a força tarefa me deu coragem para ter iniciativa. Tardiamente, eu admito. Mas as são várias as razões: racionalidades de uma vida que acontece do outro lado do oceano, viver sem poder vê-la todos os dias, relacionamento a distância, razão, razão, razão…

Queria explicar tudo isso para ela e sentir como ela se sentia, antes de sentir seu beijo. Mas foi tudo sem muito planejamento. Nos beijamos pela primeira vez na Garibaldi, no centro de Ribeirão. O beijo ainda lembrava os tópicos da nossa primeira conversa: peixe. Tínhamos acabado de sair de um restaurante japonês. Mesmo assim foi um evento muito romântico e espontâneo.

Cinco dias depois disso, eu partia de volta para Londres. O dever me chamava, mas tudo aquilo era para valer. Não precisava nenhum dia a mais com ela para eu ter certeza. Aliás, só alguns segundos com ela foram o suficiente para saber.
Desnecessario dizer que foram tres meses muito dificeis. Além dos planejamentos da viagem que fariamos juntos, o que me enchia de esperanca e alegria era falar com ela todos os dias. Foram muitas horas e bites de mensagens e video chamadas, mas sobrevivemos. Eu até sobrevivi uma conversa pelo telefone com o pai dela. Completamente compreensível, afinal, eu também teria muitas perguntas para fazer ao moço que está namorando a minha filha há 3 meses e nunca vi… E ainda vai levá-la para viajar para fora do pais. Mas tudo foi esclarecido e fomos viajar.

O verao tinha passado da metade quando nos reencontramos. Foram longos tres meses. Por um lado, foi um inicio de namoro de muita conversa. Muita conversa mesmo. Ela veio e eu cheguei vinte minutos atrasado no aeroporto para pegá-la.

No dia seguinte, Irlanda. Fomos conhecer Ardmore, a cidade que é cenário dos favoritos livros dela. E eu me encantei também.

Depois, EUA. Boston, Nova Iorque, Scranton, Philadelphia e Washington. Era difícil de acreditar que aquela menina gentil, linda, inteligente também era uma ótima companheira de viagem.
Encerramos as férias, parte na Alemanha e Dinamarca. Quando voltamos para Londres foi muito triste, pois sabiamos que o tchau estava próximo. Não só por causa do tchau, também pelos dois meses de solidão que se aproximava.
E assim foi por mais dois meses até chegar 19/12: o dia que cheguei de surpresa. Foi assim que conheci, pessoalmente a mãe dela e dias depois todo o resto da família, que até então eram só personagens da história da vida dela.

A recepção foi acima da expectativa. Eu achei que seria bem tratado, mas não é o real sentimento. Ser bem tratado não faz jus ao que senti. Fui incrivelmente bem vindo.
Mas o Natal, ano novo e o meu mês e meio de férias passou muito rápido. Os dias passam muito rápido com ela. A alegria que se renova a cada dia que falo com ela. Mais algumas semanas passaram para eu poder reencontrá-la e outro mes e meio passou como se fosse dois ou tres dias. Essa história se repete, infelizmente, muito frequentemente.

Mas nós vivemos e sobrevivemos nesse primeiro ano. Ela tem muita paciência (e quando falo muita, eu tenho que dar enfase, afinal não é qualquer namorada que aceita o namorado passar alguns dias com amigas em outro pais). Ela tem muito carinho. E num grande esforço de estarmos juntos nesse nosso aniversário de um ano de namoro, ela vem para cá e minha vida não poderia estar mais completa.
Se o primeiro for uma amostra do que vem por aí, eu já encontrei a fonte de uma vida feliz, então.
E sempre que a incerteza, a insegurança, a angústia do que vai acontecer conosco aparece, basta ouvir a voz dela e ou sentir seu abraço para me acalmar. Ela traz a paz. Esse é só o primeiro ano de nossas vidas.
Amo você Marcella.